Café Bagdad

À conquista das palavras...

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Location: sintra, Portugal

I was born in Mozambique. I'm Portuguese, but my heart is half Portuguese, half African. I'm still thinking that one day we can change the world.

Friday, January 12, 2007

QUEM FOMOS E QUEM SOMOS

Ando entusiasmada com o meu último passatempo, a pesquisa de quem é quem.

Ao procurar pessoas conhecidas de há muitos anos, comecei a interessar-me por acompanhar o seu percurso, mais para a esquerda, mais para direita?!?...

Como sempre digo, a idade nunca me endireitou, felizmente, mas quero ver o que mudou na cabeça e no coração de tantos outros.

Sempre me senti feliz por ser de esquerda, do lado do coração, foi sempre o meu argumento. Durante os meus verdes anos, sempre associei a palavra solidariedade à esquerda. Era assim, mas tudo tem mudado de tal maneira, sei de ministro que pensavam como eu.

Porque mudaram? Para ter um carro melhor? Uma casa mais bonita? Um ordenado mais chorudo? Um tacho vitalício?

Ao longo dos anos, apesar de tanta desilusão, nunca me passou pela cabeça mudar de campo. Sempre fui muito desalinhada, confesso, mas sempre me guiei por ideais, pela noção de que todos somos iguais e merecemos as mesmas oportunidades.

Como é que pessoas que pensavam como eu, hoje nos espremem desta maneira?

Ando na minha pesquisa, veremos os resultados, que começam a ser demasiado repetitivos.

O CLUBE DOS RIQUINHOS - OU VAMOS DESENCALHAR O 25 DE ABRIL

Em Portugal ganha-se pouco? Falso, em Portugal ganha-se muito, mas são poucos a ganhar muito. Reside aí o problema.

Vamos percorrer as lojas mais caras do país - não lhes faltam clientes, artigos há que só por encomenda, dizem-nos... Não, decididamente, não é aqui que vamos encontrar os que se queixam de ganhar pouco.

Toca a passear pelos bairros chics - mesmo cenário, fulana que faz a piscina maior do que a da vizinha, beltrano que compra o carro mais potente que o de cicrano, assiste-se a uma procissão onde o padroeiro é o (muito) mau gosto.

Já nas lojinhas, feiras e mercados, equaciona-se a prioridade entre a t-shirt e a mala, cada uma a 5 euros, há que decidir racionalmente entre estas duas grandes opções. Depois de um suspiro sentido e fundo, viram-se as costas, os 5 euros sempre pagam mais uns iogurtes para os miúdos.

Estamos, então, no Portugal dos Riquinhos - difícil não é ser rico, é ser riquinho. Depois de entrar no Clube dos Riquinhos, começa a alameda a alargar-se para a grande rotunda que afunila para o Clube dos Ricos. Mas, isto é mesmo assim, enquanto a rotunda vai e vem, folgam os riquinhos!... A maioria nunca entrará no Clube dos Ricos, mas circulam na mesma rotunda, que prazer!...

Se há 32 anos atrás nos dissessem que hoje ainda estaríamos assim, não acreditávamos. "Reacionário" era a palavra escolhida para catalogar os que nos diziam "sempre assim foi, sempre assim será, sempre houve ricos, sempre haverá". Será que temos mesmo de dar razão a esses arautos da desgraça?

Em Abril cumprem-se 33 anos de liberdade, liberdade dos Riquinhos passearem na Rotunda que dá acesso ao Clube dos Ricos.

Continuamos à espera do cumprimento de tantas promessas, que já cheiram a bafio e ainda não foram cumpridas, estamos fartos de ser espremidos a favor dos Ricos & Riquinhos.

Vamos desencalhar o 25 de Abril?

Friday, January 05, 2007

CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRAIS OS PECADOS DO MUNDO

É já em 2007 que volto a escrevinhar, e logo sobre Saddam!...

Não vi, em nenhum lado, até agora, qualquer comentário relevante sobre a data e hora escolhida para a execução do tirano.

Uma amiga muçulmana, reconhecendo o carácter do ditador e seus crimes, confidenciou-me a sua tristeza, pelo facto de ter sido escolhida a hora em que o cordeiro é morto para as celebrações da grande festa muçulmana do fim do ano. Foi abatido o animal.

Sou sempre contra a pena de morte - ao ser a favor, estamos a pôr-nos ao nível dos assassinos. Claro que se fosse a favor, com o Saddam, iria uma série de tiranos sanguinários que vivem impunes por esse mundo fora, Bush incluído no lote. Mas a civilização em que estamos inseridos indica para que se acabe definitivamente com a pena de morte - em todo o planeta.

Isto não invalida os crimes que foram cometidos pelo ditador iraquiano, abundantes em sangue e horror. Sangue igual ao que se derrama, hoje, no seu país. Horror igual ao que se vive, hoje, no seu país.

Matou-se um ditador, vivam os ditadores.