Café Bagdad

À conquista das palavras...

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Location: sintra, Portugal

I was born in Mozambique. I'm Portuguese, but my heart is half Portuguese, half African. I'm still thinking that one day we can change the world.

Tuesday, May 09, 2006

VINICIUS DE MORAIS

Nada melhor do que um poema de Vinicius para animar todas as Mulheres.


Receita de Mulher
Vinícius De Moraes
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível.
É preciso
Que tudo isso seja belo.
É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflicta e desabroche
No olhar dos homens.
É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado.
É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas.
Nádegas é importantíssimo.
Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente.
Uma boca Fresca (nunca húmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes.
Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não m se fala, que olhem com certa maldade inocente.
Uma boca Fresca (nunca húmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes.
Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra;

Friday, May 05, 2006

QUEM LEVOU CHE PARA A BOLÍVIA

Privilegiada que sou, tive a sorte de conhecer o revolucionário cubano José Gomez Abat, um dos oficiais que preparou a ida de Che para a Bolívia.

Não seríamos mais de 20 pessoas a assistir à palestra dele, mas estávamos tão atentos, que se ouviria o zumbido de uma mosca.

José Gomez Abat está a escrever um livro, mas não quer que o considerem escritor, a profissão dele é a de sempre - revolucionário. Modestamente, quando foi apresentado como o oficial que preparou a entrada de Che na Bolívia, emendou para "um dos oficiais", pois era um grupo de pessoas. Esse livro será publicado pela "Caminho" em Setembro de 2006.

José Gomez Abat tem 65 anos e sofre de cancro do pulmão. Quando lhe pedi para voltar para o lançamento do livro, respondeu-me, com a maior naturalidade, que não sabia se ainda estaria vivo. Sem dramas, assim, muito simplesmente, em tom adequado a um revolucionário militante.

Não lhe faltou a emoção quando contou histórias de Che, dos seus gostos, piadas, preferências, trasnformações físicas a que se submeteu, etc. Foram duas horas e tal de pura magia. Agora já sei porque foi escolhida a Bolívia - tudo isto está no livro, bem como muitos outros pormenores que até hoje estão por publicar.

Já no fim, rua fora, continuámos à conversa com ele e a mulher, a Capitana Gina. À despedida, deixou-nos a morada e o telefone, para quando formos a Cuba, para falarmos mais um bocado. Saímos de lá empolgadas de
tal modo, que, ao voltar para casa, perguntei à minha amiga Luz - "... que tal se vendermos as nossas casas e partirmos à aventura, e criamos a nossa Sierra Maestra?"...

Um dia para ficar na nossa memória.

25 DE ABRIL SEMPRE

Não se pense que passei esta data em branco, apenas andei tão entusiasmada a celebrá-la, a seguir foi o 1º de Maio, a Capitana Gina, o José Gomez Abat (falarei dele mais tarde), enfim, achei mais apropriado ir para a rua, gritar, desfilar, reclamar, em vez de ficar parada a comentar.

O S.Pedro esteve do nosso lado - felizmente os desfiles fizeram-se sem chuva, com uma Primavera linada, convidativa à festa. Porque todas as revoluções são uma festa. E porque andamos mesmo a pedir outra revolução.

Espero que cada vez mais, os jovens saltem para as ruas, e digam de sua justiça, aquilo que lhes vai na alma. Ainda não perdi a esperança de viver um "Maio 68" aqui em Portugal.

Viva o 25 de Abril! Viva o 1º de Maio! Abaixo a hipocrisia desta democracia podre, elitista e racista instalada de pedra e cal. Vamos com a nossa bull-dozer arrasar esta "burrocracia", continuando o Abril dos nossos Capitães.

Tuesday, May 02, 2006

CAPITANA GINA DA SIERRA MAESTRA

Sou uma privilegiada, reconheço-o. Não por ser alta, loura e de olhos azuis; não por ser milionária; não por tantas outras razões que nos acorrem quando falamos de privilégios. Não, nada disso, apenas porque tenho a sorte de ir conhecendo, ao longo da minha vida, algumas pessoas verdadeiramente fascinantes.

Tive o privilégio de assistir a uma palestra, no dia 26/04/06, em que um dos oradores foi a Guerrilheira Elsa Montero, Capitana Gina da Sierra Maestra. Modestamente, não quis falar da sua vida, o que me deixou ainda com mais vontade de a conhecer melhor.

É quando as nossas vidas se cruzam com pessoas como ela, que nos damos conta do pouco valor que temos. Fica na nossa memória o facto de ter ido com apenas 14 anos para a Sierra Maestra. Era filha única, e, mesmo assim, foi para a luta, onde combateu ao lado dos homens.

Falou-nos sobretudo de outra grande Mulher, a Guerrilheira Celia, considerada como uma Mãe para muitos cubanos.

Uma história que nos deixou, muito a propósito da paridade (a comparação é minha) - quando as Guerrilheiras acharam injusto não combater, cansadas de executar tarefas de rectaguarda, Celia, depois de as ouvir, apresentou a Fidel Castro essa pretensão. Muitos comandantes acharam que não deveriam ir para a linha de fogo - revolucionários, mas machistas (que é eu que eu dizia no post anterior???????????).

Claro que Fidel anuíu ao pedido de Celia. Os comandantes mais renitentes, foram os que mais Mulheres receberam - o mais machista levou quatro, e o seguinte ficou com duas.

Depois dos combates intensos, ao fazerem o balanço, esses Comandantes (agora merecem a maiúscula) escreveram a Fidel, dizendo que ele tinha razão, pois durante as refregas,os seus melhores soldados tinham sido as Mulheres.

Pedi à Capitana Gina para nos vistar outra vez, lá para Setembro - talvez...

Assim se escreverá a História.