Café Bagdad

À conquista das palavras...

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Location: sintra, Portugal

I was born in Mozambique. I'm Portuguese, but my heart is half Portuguese, half African. I'm still thinking that one day we can change the world.

Tuesday, December 07, 2004

A minha filha Carolina - o nascer de uma luta

Perdoem-me a imodéstia, mas apetece-me dizer que ninguém tem uma filha mais querida do que a minha. A Carolina tem 21 anos, é muito mais do que uma filha, é uma amiga, uma cúmplice, companheira de todos os dias, bons e maus.

Dizemos sempre que ela é o nosso investimento, e não estou a falar de questões económicas, nada disso. Ao longo dos anos, temos-lhe transmitido valores humanos, que consideramos ser a base daquilo que ela é hoje – uma pessoa com coração, nada parecida com a “típica filha única”. A palavra egoísmo não faz parte do seu vocabulário, é generosa e solidária, com a frescura e credulidade que só a juventude permite.

As suas convicções são profundas, o seu amor à liberdade é coerente. Espero e desejo que continue a percorrer o seu caminho, sempre na busca da perfeição e felicidade. Da felicidade à nossa maneira, pois ninguém tem o direito de ser feliz sozinho. E ela sabe-o.

Tem uma personalidade muito própria, embora baseada nos nossos valores. Fico radiante quando me desafia e divergimos. Nunca lhe disse isso, mas adoro vê-la a defender com calor os seus pontos de vista, quando não se encaixam exactamente nos meus – como é bom vê-la nesses assomos de rebeldia!... É bom convergir no essencial, mas divergir no pormenor só demonstra personalidade – agrada-me.

Juventude é sinónimo de irreverência e rebeldia. Com mais uma pitadinha de optimismo, tem os condimentos certos para ir para a luta.

Recordo aqui uma história da Carolina, quando não tinha mais de 3 anos. Tinha ido visitar uns tios, muito fascistas, que me pediram boleia para uns amigos tão ou mais fascistas do que eles (convém dizer que, uns quatro ou cinco meses antes, ao ver uma manifestação na televisão, me tinha virado para ela, dizendo, sempre com o meu ar revolucionário “.... assim é que é, Carolina, a luta continua, Cavaco para a rua!”). Íamos deleitados no nosso percurso, evitando estrategicamente comentários políticos, caramba... estava tudo a correr tão bem, logo o carro tinha de parar no semáforo junto ao Campo Grande!... A parede ostentava um apelativo “Cavaco Rua” em letras garrafais. Os seus olhinhos brilharam, ao reconhecer as letras, e. de punho erguido, começou o imparável slogan “A luta continua, Cavaco para a rua”.

De nada me valeu tentar calá-la, o entusiasmo redobrava, e as palavras jorravam alegres e desafiadoras da sua boquinha. Tentando não hostilizar mais os fachos, comentei que não sabia onde é que ela tinha ido buscar aquilo. Resposta pronta – “foi a mamã que ensinou”. Claro que os outros pediram para sair ali mesmo. Meses mais tarde, voltei a encontrá-los, cumprimentaram-me friamente, e recusaram a nossa simpática boleia...

Obrigada, Carolina, por me teres respondido assim. Nesse preciso momento, senti que ias saber construir o teu caminho. Espero que continues a encher o meu peito de orgulho.







A minha amiga Luz

Quero apresentar-vos a minha amiga Luz. Alentejana, alta, magra, morena – assim, por esta ordem. Mas do que eu mais gosto é mesmo da sua entrega à nossa amizade. É a minha amiga do leque – vamos da política pura e dura, até às incursões pelas lojas... É, pois, um enorme leque de interesses comuns.

Somos amigas há doze anos – uma vida, se pensarmos em quantos casamentos/divórcios ocorreram durante estes anos...

A Luz é aquela amiga com quem reparto horas que ficarão gravadas para sempre na minha memória. Temos interesses comuns, convergimos politicamente, o que nos permite um simples olhar, um começo de frase, para saber onde vamos desaguar.

Adoramos ir às compras juntas, porque acabamos por nos divertir como duas garotas. Como sou bastante irreverente, costumo brincar, enquanto provo a roupa – pois... parece que a roupa anda a encolher, ou será que engordei?... Às vezes, choramos de tanto rir.

A Luz é, realmente, aquela amiga que tenho sempre à mão – mas ela sabe que também estou sempre ao lado dela, que nunca a abandonaria. Mais do que uma amiga, é a irmã que eu gostava de ter tido – ou será que tive e o sentimento fraterno nunca desabrochou no vínculo de sangue, e só veio a despertar na Luz?!...

Quando há uns anos estive doente, a Luz ofereceu-se para me dar um rim. Penso que nem ela se apercebe de como eu nunca esquecerei esse seu gesto , ainda que não tivesse sido necessário.

Será que ainda preciso dizer mais alguma coisa? É a minha amiga Luz, e está tudo dito.